Você treina firme e cuida da saúde na maioria dos dias da sua vida. Mas, às vezes a vontade de tomar uma cerveja gelada pós treino pesado fala mais alto, e você bebe sedento. Se esse álcool faz mal para seu corpo, nós vamos tentar esclarecer agora - é bom ler tudo sabendo que o bom senso é nosso maior amigo.
Já a foto ao lado mostra o Tour de France de 1927, com o ciclista fumando um cigarro tranquilamente enquanto pedala. Parece que os tempos mudaram, não é mesmo? E com o passar dos anos muitos estudos sobre os efeitos do álcool e outras drogas lícitas no corpo surgiram.
Ok, sendo assim, nós já sabemos que o álcool está longe de ser uma bebida recomendada para hidratação ou energia. Na verdade é bem o contrário, consumir em excesso te leva a uma série de consequências como desidratação, moleza, desequilíbrio, diminui a força e prejudica a resposta muscular.
Mas também é quase senso comum entre os ciclistas pensar que está tudo bem tomar uma cerveja depois do treino pesado. As pesquisas sobre álcool e exercício físico mostram que existe sim uma relação onde o treino pode causar uma maior tolerância ao álcool, sendo preciso beber mais para ficar alto. O fato é que, por mais que uma cervejinha ou outra pós treino não prejudique seus ganhos ou resultados, segundo a jornalista Selene Yeager do blog Bicycling, existem bons motivos para maneirar.
Consumir álcool afeta a sintetização protéica do corpo. Ela causa deficiências graves de várias vitaminas como C, B1, B2, B6 e B12 todas fundamentais para quem deseja potencializar seus ganhos musculares.
Além disso, o consumo interfere diretamente na hipófise e no hipotálamo, responsáveis pela liberação dos hormônios corporais masculinos e femininos. Isso afeta sua força muscular e consequentemente, o rendimento do seu treino.
Mas, se você não é atleta e não espera tanto por resultados, uma cervejinha durante a semana não deve ser problema.
Você pedalou durante vários quilômetros, enquanto isso seu fígado estava trabalhando para limpar seu corpo de todo resíduo metabólico do exercício. Mesmo depois do treino, seu corpo ainda está em ritmo acelerado, isso quer dizer que quando você pede uma cerveja para o garçom o organismo vai parar de tentar dar conta do lactato, que é necessário para a recuperação. “Em vez de quebrar o lactato e transformá-lo em glicose, para recuperar os estoques de glicogênio do corpo, seu fígado está ocupado produzindo enzimas para quebrar o álcool e limpar os resíduos tóxicos dele.”
Confira abaixo um pedaço de uma entrevista feita pelo Dr. Drauzio Varella, ao também médico e especialista Dr. Luis Caetano da Silva. Na matéria completa, disponibilizada pelo blog Drauzio Varella, você pode entender melhor todos os efeitos do álcool para no organismo.
“Drauzio – O fígado suporta mal qualquer quantidade de álcool?
Luis Caetano da Silva – O fígado tem a capacidade de destruir o álcool, porque possui enzimas que o transformam em outras substâncias, por exemplo, o acetaldeído. Acontece que, quando o álcool é ingerido em quantidades maiores, começam a aparecer lesões nas células hepáticas. Obviamente, se o indivíduo bebe todos os dias e há muito tempo, a recuperação celular fica mais difícil e o metabolismo do álcool é comprometido.
Drauzio – As células do fígado podem ser destruídas pela ação do álcool?
Luis Caetano da Silva – É óbvio que uma escapada ocasional não provoca grande estrago. Todavia, se a ingestão for frequente e o volume ingerido maior do que a capacidade do fígado para metabolizar o álcool, as células hepáticas podem ser irremediavelmente destruídas.
Drauzio – O que é pior para o fígado: quem bebe todos os dias doses menores ou quem toma o equivalente às doses de vários dias de uma só vez?
Luis Caetano da Silva – O pior é o uso diário de álcool. Já existe uma estimativa de que um indivíduo pode desenvolver cirrose hepática se beber 80 gramas de álcool por dia, durante aproximadamente 10 anos. A mulher, que é mais sensível, corre o mesmo risco com metade dessa dose.
Drauzio – Vamos tentar demonstrar o que são 80 gramas de álcool?
Luis Caetano da Silva – Vamos tomar como exemplo a cerveja, bebida bastante apreciada e consumida no Brasil. Uma garrafa de cerveja tem 600ml. Vamos admitir que cada garrafa tenha 4% de álcool. Logo, três garrafas e meia de cerveja perfazem os oitenta gramas. Quem bebe essa quantidade todos os dias, durante 10 anos, corre sério risco de desenvolver cirrose. Se considerarmos que o teor alcoólico da pinga, do uísque e da vodca é dez vezes maior do que o da cerveja, dá para imaginar o que pode acontecer. Um copo grande de qualquer uma dessas bebidas corresponde a 64 gramas de álcool, portanto beirando o limite que, na maioria dos casos, leva à cirrose.”
A desidratação sobrecarrega seu sistema cardiovascular e isso é coisa séria. Manter o corpo hidratado é essencial para manter o perfeito funcionamento dos órgãos, e uma das primeiras consequências do álcool no corpo é a desidratação. O perigo é ainda maior quando se está com calor, suado, querendo muito se refrescar - porque o efeito é exatamente o contrário.
O grande problema é o Etanol presente nas bebidas alcoólicas. Ele age diminuindo a produção do hormônio antidiurético, responsável por regular a perda de água do organismo. Isso faz com que eliminemos mais água, por isso vamos tantas vezes ao banheiro quando bebemos. Em todo esse processo, como comentamos acima, perdemos alguns sais minerais (como o sódio e o potássio) e importantes vitaminas (como as do complexo B), além de diminuir no sangue a concentração de glicose, principal fonte de energia do nosso cérebro.
E mesmo assim quer aproveitar um drink pós pedal, não passe vontade. caso você queira tomar uma bera com os amigos, tome um recovery drink antes ou coma um lanche mais saudável. “Assim você garante os nutrientes que seu corpo precisa, antes das rodadas de cerveja.” - Diz Yeager.
E, se por acaso estiver com muita sede quando chegar no bar, tente tomar um grande copo de água antes de começar a beber. Lembre que moderação e disciplina caminham juntas, e aproveite o happy hour divertido com seus parceiros de pedal.